Vanessa Roque, treinadora de natação sincronizada do SC Espinho, em entrevista ao Jornal Bancada Central, de 16 de Agosto de 2011
Mesmo não tendo as condições que têm atletas de outros clubes com quem competem, as nadadoras da sincronizada do SC Espinho fazem pela vida, e mesmo que seja de forma muito pontual, de quando em vez espetam uma lança em África. De resto, Vanessa Roque, treinadora dos tigres, não tem dúvidas que se as condições de trabalho fossem as ideais os resultados seriam dos melhores que se atingem em Portugal.
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Satisfeita com os resultados obtidos ou queria mais da natação sincronizada do SC Espinho?
Tendo em conta as condições de trabalho que nos são oferecidas, não tenho razões para estar insatisfeita. Ou seja: nunca olho para os resultados de uma forma absoluta, mas sim muito relativa. E porquê muito relativa? Porque em termos de espaço físico e de horários não temos as condições ideais de trabalho que nos permitam sonhar com outros patamares. Quanto vamos para uma competição não posso comparar a prestação das nossas atletas com as de clubes que têm horários para trabalharem em piscina completa com tanques de 2 metros de profundidade. No SC Espinho não temos nada disso. O que temos é uma piscina municipal com profundidade máxima de 1,70 metros e que nunca está por inteiro ao nosso dispor. Portanto, quando olho para uns resultados de um campeonato, seja de verão ou de inverno, olho relativizando os factores que enumerei.
As atletas não ficam frustradas por não terem as mesmas condições que as suas adversárias?
Claro que ficam! Por muita dedicação que tenham à natação sincronizada, elas sabem que com as nossas actuais condições nunca irão atingir os níveis que atingem muitas outras atletas. Como é usual dizer-se, não conseguimos fazer omeletas sem ovos. Face à realidade que temos, não posso ir para uma prova e comparar os nossos resultados com os de muitos outros clubes que têm muito mais e melhores condições de trabalhar que as nossas. Portanto, e ainda relativamente à primeira pergunta que me fez, ficar satisfeita ou insatisfeita é sempre muito relativo.
Mas mesmo em condições diferentes deve alinhar metas?
Claro que nos propomos a atingir determinados níveis. Por exemplo: se uma atleta nossa atingir o nível x, que é o que eu penso que ela pode/deve atingir, fico satisfeita com a sua prestação. Mas que ninguém nos peça para atingirmos marcas que atingem atletas de clubes que têm o dobro ou até mais das nossas condições de trabalho.
Portanto, não vai até aos resultados que gostaria de atingir mas…
Em termos absolutos, olhando para uma classificação com a ordem dos atletas, os resultados não são aqueles que gostaríamos de atingir, mas se tivermos em conta as nossas condições de trabalho não devemos ficar assim tão desiludidos. Lembro que em épocas passadas já tivemos pódios nacionais, o que dadas as condições que o SC Espinho tem, foi excepcional. No SC Espinho trabalhamos todos, mas todos sem excepção, por amor à camisola. Os treinadores e os atletas, sejam de sincronizada, da pura ou do pólo, não podem dar mais, e os dirigentes trabalham imenso para que não falte nada à secção. Se nos forem dadas melhores condições, não tenho dúvidas que os resultados serão muito melhores, se bem que nos devemos congratular com uns quantos que têm sido obtidos.
Se chegarem as tais condições de trabalho que vem reclamando, mesmo na sincronizada, os resultados serão muito melhores, isto é, há potencial para fazer mais e melhor?
Há potencial que até agora não nos foi possível explorar. Com o tanque que temos não se consegue explorar até ao máximo o potencial das nossas nadadoras.
Sabendo das suas capacidades, as próprias atletas devem sentir-se frustradas!?
É um pouco assim. E é porque elas percebem que têm aptidões para chegarem mais além, a um patamar superior… mas esse sentimento de frustração é ultrapassado por um enorme espírito de amizade, do desporto pelo desporto sem estar a pensar muito em medalhas, de se estar num clube de que se gosta. Nunca tive uma atleta que tivesse como preocupação principal a conquista de medalhas.
E consegue cativas as atletas para competir por competir?
Conseguimos. De resto, todos os anos nos chegam novas atletas para a natação sincronizada. Das escolas da Câmara, meninas /alunas que estão a aprender a nadar. Aliás, devo dizer que são elas que nos entusiasmam a continuar.
Disse há pouco que no SC Espinho não se vive obcecado com a conquista de medalhas. Mas gostam de ganhar?
Claro! Toda a gente gosta de ganhar. É muito gratificante a ida de atletas nossas ao pódio. Isso para o grupo é muito encorajador.
Há algum momento que a tenha marcado enquanto treinadora do SC Espinho?
A primeira prova em que participei com elas. Foi uma prova de figuras em que conseguimos um pódio. Foi espectacular. Talvez por ter sido a primeira prova a que fui e logo com excelente resultado. Nesse mesmo ano tivemos uma boa prestação no Campeonato Nacional de Seniores.
Para além de presenças em campeonatos, vão a eventos para onde são convidadas?
Vamos, e a muitos. E devo dizer que as atletas gostam muito. Se calhar gostam mesmo mais de ir à exibição do que à competição.
Em que esquema a sincronização do SC Espinho é mais forte?
Se calhar em duetos. Até à época passada tivemos duetos seniores que eram muito fortes.
Uma presença nos Jogos Olímpicos não é uma coisa com que sonhem?
Neste momento devo dizer que não. Não temos condições logísticas para estar a pensar nisso. Quem sabe amanhã com outras condições de trabalho.
Se fosse vereadora responsável pelo pelouro do desporto, que medida tomava no imediato?
Diligenciava junto dos outros membros do executivo a disponibilidade para a construção de uma piscina nova.
in Bancada Central, 16 de Agosto de 2011
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